Trajes
prontos. Equipamento embarcado. Sistemas verificados. Tensão
natural. Afinal, serão horas críticas consumindo
enorme energia. Vamos retornar à Terra hoje. Vestimos
os trajes Sokol. Olhamos ao redor. Despedimos da Estação
que foi nosso lar, fora do planeta, pela última semana.
Sensação estranha. Ela continuará aqui,
cumprindo sua função, seu destino, longe de todos,
nessa fronteira moderna da humanidade.
Entramos no veículo. Fechamos os hatches. Testamos a
pressurização. Prontos para partir. Tudo deve
acontecer sincronizadamente. O tempo exato é de grande
importância para conseguirmos chegar ao local esperado
de pouso. Não seria agradável pousar no meio do
oceano em algum lugar do planeta. Em todo caso, treinamos para
isso. Relembro os pontos principais. Temos que estar preparados
sempre.
Começa o desacoplamento e o afastamento entre a Soyuz
e a EEI. Na distância correta, inicia-se a queima de reentrada.
Serão minutos de grande atenção ao sistema
de propulsão. A idéia é reduzirmos a velocidade
na órbita. Assim, com velocidade menor, iremos perder
altitude e reentrar na atmosfera. Olho para Estação
uma última vez. Lá ficaram meus amigos, meus irmãos,
Jeff e Pavel. Desejo boa sorte aos dois no cumprimento de sua
missão. Tenho certeza que de lá também
desejam o mesmo a nós, aqui dentro de nossa pequena espaçonave,
prestes a encarar as enormes temperaturas da reentrada.
Seguimos nosso destino. Cumpri a minha parte profissional com
o meu país e a minha promessa aos brasileiros de levar
a bandeira do Brasil ao espaço pela primeira vez. Agora
é lutar pela minha vida nessas próximas horas.
A queima ocorrendo como previsto, nos colocará na velocidade,
ângulo e altitude correta para entrarmos na atmosfera.
Após a queima, as três partes que compõem
o veículo serão separadas: o módulo de
habitação, a cápsula de reentrada e o compartimento
de instrumentação e propulsão.
Uma vez separados, apenas a cápsula de descida fará
uma reentrada controlada para pouso, o restante irá queimar
na atmosfera.
Na cápsula, somos protegidos por um escudo térmico
na superfície da base do veículo. O contato com
a densidade crescente das camadas da atmosfera é difícil
e perigoso. A temperatura altíssima produz plasma ao
redor da cápsula. Dentro, vibração e atenção.
O fator de carga atinge normalmente 4 g (gravidade). Caso o
sistema de controle de descida falhe, teremos que fazer uma
entrada balística, que, além de nos colocar fora
do ponto de pouso, também causa fatores de carga de até
10 g. Nesse nível de aceleração, nossos
corpos são tão pressionados ao assento que é
praticamente impossível qualquer movimento. Temos que
nos esforçar para respirar, utilizando apenas o abdomem,
não o movimento normal no peito.
Não há comunicação durante os minutos
de reentrada. O pequeno controle de sustentação
do veículo é feito através de rolamento
em torno do eixo aerodinâmico. Finalmente o paraquedas
principal é acionado automaticamente. Se falhar, existe
um reserva.
Na sequência, o escudo de proteção térmica
é ejetado, enquanto a cápsula é despressurizada.
A descida continua garantida pelo paraquedas. As equipes de
resgate acompanham a possível posição de
pouso. O helicóptero se posiciona no deserto. É
noite, cerca de três e meia da manhã.
A 80 cm do solo, foguetes de redução de velocidade
de impacto são acionados. O toque é brusco de
qualquer maneira. Dentro, olhamos uns aos outros, verificando
se todos estão bem.
Aguardamos o contato das equipes de resgate. Hatch aberto. Estamos
em casa. Missão Cumprida!
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